Valeu a pena

 O esporte foi uma coisa que os guerreiros inventaram para se divertir entre uma guerra e outra. 

De tempos em tempos quando os jornaleiros estão sem ideias eles publicam "notícias" sobre o medo de que a guerra passe a ser empreendida por meio de robôs desumanos.  As pessoas que prestam atenção nessas discussões não percebem que a guerra já é empreendida por robôs. 

O que é uma mina que fica enterrada no chão esperando alguém passar pra explodir? Se não um robô. E que robô mais desumano! Ele não se importa se quem o ativa é amigo ou inimigo, adulto ou criança, homem ou mulher. Ele só explode.  

O que é um míssil se não um robô? As vezes é construído com um pouco de humanidade, suficiente para não cair sobre uma escola ou maternidade, mas a maioria só caí sem se importar se sua queda ceifa a vida de soldados ou de crianças.

Além desses temos satélites tão robôs quanto os anteriores, e os robôs mais óbvios de todos, aqueles que até os jornaleiros sem ideias sabem que se trata de robôs, os drones.

A todo tempo a modernidade nos convida a abandonar algo porque chegou outro algo ainda melhor. Mas por sorte muitos não aceitam esse convite.

Quando os portugueses chegaram no Japão com seus canhões e armas de fogo portáteis, os samurais achavam que ainda valia a pena treinar com espadas. 

Quando os computadores passaram a jogar xadrez melhor que humanos, ainda houveram muitos que acharam que ainda valia a pena jogar xadrez. 

E mesmo em uma era como a nossa em que os robôs são os grandes guerreiros, ainda vale a pena aprender a lutar.


Confiante nisso em 2021 eu decidi que ia dedicar minha vida ao judô. E uma vez que ainda havia um isolamento social em vigor me aproximei do judô da forma como era possível. Como espectador. No meio de minhas pesquisas. Esses robôs que além de dominarem a guerra também dominam as buscas na internet, me indicaram uma moça que praticava não judô mas jiu jitsu brasileiro. 

Uma lutadora do chamado MMA. Uma moça de dezesseis anos. Natural da cidade estado de Singapura. Ela tinha acabado de derrotar uma brasileira de forma destruidora. Eu não gosto de MMA nem muito menos tenho vontade de assistir ao vivo. Mas não tive como ficar alheio às notícias sobre aquela garota. E em razão das lutas dela terem sido vitórias muito rápidas, foram três lutas, eu terminei assistindo. Dezesseis anos. Teve gente que começou a praticar judô com dezoito anos e ainda foi campeão mundial. Já pensou se essa moça passasse a lutar  judô? Que maravilha não seria. Com apenas dezesseis anos. Toda a vida pela frente. 

        

Eu decidi que ia acompanhar a carreira dela. Não assistindo. O MMA é pago para assistir e eu não faço questão de assistir nem de graça. Mas decidi acompanhar pelas notícias. E desde então eu procurava notícias dela e nada encontrava. Até o dia 9 de janeiro de 2023. Quando procurei e achei. A notícia de que no dia aquela atleta que apareceu vencendo de forma tão incontestável com dezesseis anos. Aos dezoito anos havia morrido. 

Que desconcertante. É muito difícil assimilar uma maluquice dessas. Mas há vida é assim. 

O que posso pensar é que mesmo tendo vivido tão pouco, deve ter valido a pena. 

Victoria Lee: 17/5/2004 - 26/12/2022

        



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